CARTA PARA A ASSEMBLEIA DO SÍNODO PARA A AMAZÔNIA

 

DO SANTOS LIMA – DELEGATO FRATERNO

 

1.           Sua Santidade Papa Francisco e caríssimos irmãos reunidos nesta assembleia sinodal, como pessoas batizadas somos convocados e convocadas, hoje, a estar com Jesus Cristo no meio do coração da Amazônia, ouvindo o clamor do povo, vendo a realidade que nos cerca, saboreando as alegrias e tristezas da nossa gente e tocando as feridas mais profundas que levam ao sofrimento os nossos povos originários, a nossa fauna e flora, os nossos rios e tudo quanto foi criado por Deus para o benefício da humanidade. O seguimento a Cristo, hoje, pressupõe que, como Igrejas Cristãs, assumamos um compromisso concreto de cuidado conjunto para com a casa comum.

2.            A nível mundial, nós, Igrejas da Comunhão Anglicana, temos nos preocupado com as emergências climáticas, e orado e trabalhado pela salvaguarda da criação.  Este tópico é um dos assuntos de preocupação global que serão explorados na conferência de Bispas e Bispos Anglicanos, a realizar-se em Canterbury, em 2020. São preocupações que são compartilhadas com aquelas contidas na Encíclica Laudato Si, e que nos comprometem no serviço do cuidado com a criação.

3.           Quando olhamos para Jesus, vemos alguém que institivamente ficou do lado dos mais vulneráveis da sociedade. É absolutamente claro que, em 2019, seguir Jesus deve também significar estar ao lado dos que estão sofrendo por causa da fome, da exclusão e da falta de oportunidades. Nos últimos meses a Amazônia sofreu em chamas e muitas vidas foram ceifadas. Todo esse rastro de destruição na floresta amazônica é fruto de um sistema econômico que devora a vida, exclui, degrada e não leva em consideração a dignidade da pessoa humana. E nós sofremos com a Amazônia. Portanto, como pessoas cristãs, não podemos nos calar, mas devemos reafirmar as marcas do nosso batismo e com elas reassumir o compromisso de lutar para salvaguardar a integridade da criação e de transformar as estruturas injustas da sociedade, desafiando toda sorte de violência, respeitando a dignidade de toda pessoa humana e buscando a paz e a reconciliação.

4.             Entendemos que há a necessidade de sairmos do nosso próprio amor, querer e interesse, se quisermos trabalhar conjuntamente pelo bem da Amazônia e do povo de Deus, e ter êxito nesta jornada. Anunciar o amor de Deus nos rincões mais longínquos da Amazônia deve significar também, para nós, denunciar qualquer forma de opressão que pretende macular as marcas e as pegadas de Deus nesta porção tão bela da criação, porque o amor deve ser posto mais em obras do que em palavras.  Sim, irmãs e irmãos, o Cristo dos pobres aponta para a Amazônia. Jesus, hoje, nos chama a estar com ele no coração dessa grande maloca que devemos cuidar. É tempo de lermos as teografias de Deus na Amazônia.

5.              O sopro do Espírito de Deus, que vivifica e renova a missão da Igreja, vem da Amazônia.  E nós, que estamos aqui reunidos, precisamos, mas que nunca, tomar consciência de que somos servidores da missão de Cristo, na Igreja. O Espírito de Deus quer nos animar e nos unir. Ele é o protagonista. Nós, anglicanos presentes na Amazônia há mais de cem anos, nos sentimos contemplados nos N. 138 e 139 do Instrumento Laboris e, como Igreja também de tradição Apóstolica, propomos que possamos construir juntos uma grande Rede Ecumênica de Igrejas Cristãs pela Amazônia, onde podemos ter ações conjuntas na salvaguarda da nossa Casa Comum, na reflexão teológica, no desenvolvimento ecológico sustentável e na parceria solidária pela proteção dos direitos dos povos indígenas, no combate ao tráfico humano e na acolhida aos imigrantes, entre outras urgências humanitárias que podem ser consorciadas nesta rede. Possamos sonhar juntos. Pois como nos disse um dia Dom Helder Câmara: “Felizes os que sonham, alimentarão a esperança de muitos e correrão o doce risco de um dia ver os sonhos realizados”.   Muito obrigado!